Desde tempos imemoriais a Lua exerce um fascínio sobre o imaginário do ser humano. Em muitas culturas e religiões antigas, é considerada Deusa. Entre as crenças mais fortes que resistem ao tempo – e aos argumentos céticos e racionais reforçados pela modernidade – está a de que a chegada da lua cheia adianta os partos; enquanto a crescente é boa para alguns plantios e pescas. A energia da Lua é mesmo profunda e permeada de significados.
Aliás, sua atuação sobre as plantas é bem traduzida pela agricultura biodinâmica, que segue um calendário lunar. É que, por emitir a luz recebida do Sol, a Lua acaba tendo grande regência no desenvolvimento dos vegetais.
Fato é que há uma atração eletromagnética sobre a Terra – seres humanos, animais, marés, agricultura… “É a influência sobre esse fluxo das águas que tanto afeta nossos emocional”, explica a astróloga Maína Mello.
A Lua e a reconexão com a natureza
O universo lunar é mesmo rodeado de mistérios. E já faz tempo – 50 anos – que o homem pisou por lá pela primeira vez. Desde então, cobra-se da ciência mais explicações e evidências para tantos efeitos que, por mais ilógicos que se mostrem, não se perdem no tempo, nem nos nossos hábitos modernos e distantes da natureza.
Enquanto isso, ainda há muita gente que a enxergue apenas como uma esfera luminosa repleta de lendas místicas. No dicionário, o termo lunático refere-se àquele dado a divagações, que “vive no mundo da Lua”.
Na astrologia, a energia da Lua representa o nosso emocional: como nos sentimos e quais são nossas necessidades. “No mapa astral, a Lua fala da casa, da família, da mãe, da comida, do que nos ampara e nos dá sustento”, explica Maína.
No xamanismo, ela é honrada em rituais e músicas sagradas. Na filosofia chinesa tem a energia yin: feminina, fluida, fresca. Enquanto o sol é ativo, quente, masculino –e estas representações também estão no hinduísmo.
No hatha yoga, a série de ásanas Chandra Namaskar é uma sequência de movimentos representando o dinamismo das quatro fases: nova, crescente, cheia e minguante. A intenção é saudar a energia lunar trazendo fluidez e relaxamento.
A Lua e a relação com a beleza
Das mais belas manifestações da natureza, é impossível falar da força lunar e não associá-la a hábitos de cuidado com a aparência. É bem provável que você já tenha olhando o calendário antes de cortar os cabelos para saber se estava escolhendo a fase mais propícia para potencializar o crescimento saudável dos fios.
Cris Dios é uma entusiasta desse fenômeno. E, há 15 anos, a cosmetóloga e empresária do ramo da beleza estuda, na prática, os efeitos nos cabelos.
“Tenho muito respeito e escuta para o que os antigos diziam. Acredito no ritmo da natureza”, diz ela, que trouxe para seus salões tratamentos alinhados às fases lunares.
O tratamento mais famoso, “Encanto da Lua Cheia”, atrai dezenas de mulheres todo primeiro dia da lua cheia de cada mês. Segundo Cris, o ritual aproveita a energia da lua cheia, que traz vitalidade e expansão. “Há uma maior ativação na circulação, na irrigação do bulbo capilar e na nutrição do fio”, garante.

Para cada fase lunar, uma potência
E é justamente por toda esta potência que a lua cheia é a mais valorizada e admirada. Aquela que faz olhar para o céu até o mais cético dos seres humanos. Mas, para se reconectar com a energia da lua e não somente admirar sua luminosidade, é preciso honrá-la e aceitar que todas as fases têm seu saber individual. Ao nos abrirmos à percepção durante os ciclos, aproveitamos cada momento ao nosso favor.
Tudo começa com a lua nova, quando, segundo Maína Mello, passa a ser liberada a energia da intenção para a semeadura. Em seguida, a crescente é dinâmica e focada na manifestação das intenções. Pense na plantinha que está brotando enquanto as raízes se aprofundam. “É um momento de articular para que os projetos internos aconteçam na matéria”, completa.
A lua cheia, de fato, faz jus à fama de toda poderosa. Sob seu brilho, resultados do que foi intencionado e manifestado nas anteriores aparecem. É hora de se expandir para o mundo, os afetos ficam mais expressivos e as energias voltadas para fora.
Mas a pouco exaltada lua minguante também tem seu valor: quando a lua chega em seu último quarto, nos sete dias seguintes, ela reflete cada vez menos a luz solar, e nossa disposição também diminui. “Conforme nos voltamos para dentro, vamos analisando os processos iniciados na lua nova”, traduz Maína.
A influência da Lua chega a todos
E, para perceber todo esse movimento com mais precisão, basta olhar para o funcionamento do organismo feminino. “A mulher flui de um aspecto do ciclo para o outro mudando e se transformando em sintonia com sua natureza. O ciclo menstrual e o ciclo da natureza estão intimamente ligados, e o corpo da mulher reflete as fases da lua”, afirma a terapeuta e escritora Miranda Gray, no livro A Lua Vermelha (Ed. Pensamento).
E como a Lua rege a água, ela também influencia todos os seres humanos e não só as mulheres. “Todos temos a Lua no mapa. Portanto, todos sentimos. Por exemplo: os homens também tem suas marés emocionais, seus picos de energia criativa e momentos reflexivos”, lembra Maína Mello.
Se ouvir os sinais do próprio corpo é difícil, reconhecer nossas respostas emocionais a ela pode ser ainda mais complexo. Alguns movimentos, como o Sagrado Feminino e Sagrado Masculino, têm resgatado saberes antigos e reaproximado mulheres e homens de todos os povos com a natureza enquanto divindade.

Mandala lunar: ferramenta para o autoconhecimento
De carona no resgate de rituais ancestrais, a mandala lunar ressurge como uma ferramenta de reconexão e autoconhecimento. Agora, com arte gráfica e mais funcional, o conceito, adaptado de uma ideia originalmente proposta por Penelope Shuttle e Peter Redgrove, no livro The Wise Wound, funciona como uma guia de compreensão de lua-mulher.
A psicoterapeuta corporal Morena Cardoso, da Danza Medicina, ajudou a popularizar a mandala no Brasil disponibilizando um modelo para download gratuito em seu site. “Após alguns meses de anotações, é possível identificar padrões de físicos, emocionais e comportamentais, e entender o que o que é interno ou vem de fora. Isso ajuda no autocuidado diário e, sobretudo, a se perceber como uma lupa”, diz.
Tanta sintonia poderia fazer o papel de bússola para respostas de comportamentos, questionamentos e manifestações emocionais e corporais. Mas a vida moderna, a rotina acelerada e falta de intimidade com a natureza são gatilhos para que Lua e humanidade fiquem cada vez mais distantes.
Assim, deixamos de aproveitar um guia natural e generoso ao qual fomos presenteados pelo universo. A boa notícia é a de sempre: temos 29 dias, 12 hora e 44 minutos de ciclo para nos deixarmos tocar pelas quatro facetas da energia lunar. Sempre há tempo. ▲